RESUMO DO ARTIGO “A IDENTIFICAÇÃO
DA MENTIRA E DO ENGANO EM SITUAÇÕES DE PERÍCIA PSICOLÓGICA
1.
ASPECTOS
RELACIONADOS À FALSIFICAÇÃO DE INFORMAÇÕES EM PROCESSOS DE PERÍCIA
Ocorre
que, apesar dos altos índices de incidência de mentiras, visto que a mesma é
utilizada como uma das formas de defesa mais precocemente aprendidas é
alarmante o quanto as pessoas permanecem incapazes de identificar um fato desta
natureza, neste sentido Vrij (2000), citado pela referida autora, afirma que as
pessoas ainda são melhores em mentir do que em reconhecer um mentiroso. Isso se
deve ao desinteresse social pelo reconhecimento da verdade, bem como, ao fato
de que o mentiroso possui suas habilidades bastante desenvolvidas, dificultando
assim, o reconhecimento da identificação
.
Destarte,
se considerar-se que nas relações sociais a mentira possui alto índice de
incidência, salienta-se que na área forense estas situações tendem a
acentuar-se. Neste sentido, a relação que se estabelece entre o periciado e o
avaliador baseiam-se no fato de que o periciado visa ludibriar o avaliador por
meio da criação de uma situação irreal, como meio de obter benefícios, ou
mesmo, eximir-se das responsabilidades, enquanto que no caso do avaliador
incumbe a realização de um trabalho pormenorizado, que evidencia a verdade para
as autoridades competentes.
Neste
sentido, por meio de estudos, verificou-se que. apenas os agentes do Serviço
Secreto mostram-se diferenciados nesta capacidade de identificação, mesmo em
comparação com demais grupos treinados especificamente para a identificação
deste problema, cita-se aqui, os juízes, psicólogos, assistentes sociais,
dentre outros. Ademais, verificou-se que esta identificação tornaria-se mais
fácil se o avaliador tivesse por objetivo identificar a verdade ao invés da
mentira, pois as pessoas possuem uma capacidade maior em identificar as
condutas autênticas, devido à tendência em acreditar que o que vêem é
verdadeiro, além do vinculo de confiança que se estabelece um com o outro no
convívio social.
Deste
modo, acometer a dificuldade na identificação das condutas de mentira e engano
envolve a discussão de no mínimo duas classes de fatores, quais sejam, “aqueles
relacionados as características do observador e outros relacionados ao próprio
sujeito que busca distorcer a verdade, tanto em relação às suas habilidades
pessoais quanto a sua percepção da situação em que se encontra inserido” (pag.84).
2.
FATORES
RELACIONADOS AO OBSERVADOR
De
acordo com estudos, conclui-se que uma das maiores dificuldades em identificar
a mentira e o engano encontra-se no fato de que os avaliadores possuem
dificuldade em dirigir seu foco de atenção a indicadores precisos e eficazes.
Isso se deve ao despreparo do observador, bem como as crenças que o mesmo constrói
sobre a maneira de se conduzir de uma pessoa que esteja mentindo. Tais crenças
possuem variáveis de acordo com cada cultura, no entanto centralizam o problema
de supervalorizar elementos de comportamento, cujos mesmos “são mais
pertinentes ao estado emocional da ansiedade do que do ato de enganar
propriamente dito” (pag. 84).
As
crenças seriam construídas sobre experiências que envolvem situações extremas,
onde prevalece o nervosismo, por falta de controle as informações necessárias
para manter a mentira, e o temor por parte do mentiroso ser descoberto. Nas
situações onde a mentira fosse empregada de forma altamente elaborada, com
controle da situação por parte de seu agente, e onde o mesmo se mostrasse
autoconfiante, estes indicadores apreendidos através das crenças já não se
evidenciam ( citação do autor à VRIJ, 2000-pag. 85).
Assim
sendo, autores como Hall e Pritchard (1996), consideram de suma importância para
os avaliadores a realização de uma reavaliação de suas crenças acerca de elementos
indicadores na busca pela verdade, sendo que os erros mais frequentes são:
a)
“Acreditar
que a simulação não ocorre com freqüência;
b)
Associar
simulação com doença mental;
c)
Acreditar
que o avaliador não consegue ser enganado;
d)
Valorizar
excessivamente os traços de caráter em detrimento de uma avaliação contextual
(inclusive reforçando critérios estabelecidos pelo DSM-IV);
e)
Acreditar
que determinadas condições clínicas, como amnésia e alucinações, podem ser
facilmente simuladas e dificilmente provadas quanto a falta de veracidade;
f)
Acreditar
que a habilidade em detectar a simulação é uma arte e que não pode ser
ensinada. Estas falsas crenças levariam os avaliadores, de forma ingênua ou
arrogante, a minimizar sua ocorrência ou a deslocar o foco de análise para
doença mental - negando a função de adaptação social inerente à conduta de
mentir ou distorcer a realidade.” (pag85)
Destarte,
acerca desta questão, em citação a VRIJ, a autora reforça acerca do perigo que
a autoconfiança acarreta ao entrevistador, tornando-os vulneráveis, ou seja,
com base em crenças pré-estabelecidas, os mesmos tomam decisões rápidas,
basiladas em poucas informações. Outros fatores negativos, são a tendência que
as pessoas possuem de não querer saber a verdade, bem como as culturas que
carregam consigo, no sentido de preconceitos, ou mesmo fatores como as
diferenças étnicas.
3.
FATORES
RELACIONADOS AO COMPORTAMENTO DE MENTIR
A
maior dificuldade acerca da temática, encontra-se no fato de que não é possível
definir um padrão comportamental do mentiroso, visto que suas manifestações
encontram-se vinculadas a personalidade do simulador e das circunstâncias abarcadas,
ou seja, as características da mentira são diferenciadas conforme cada
individuo, neste sentido a autora em citação a Vrij, propõe uma distinção por
meio de quatro grupos, compostos por:
Primeiramente,
“encontram-se os denominados “manipuladores”, caracterizadas pelo esperado
estereótipo do mentiroso, egoísta, astuto e manipulador”. Por meio de estudos
verificou-se que pessoas com elevados maquiavelismo, frequentemente utilizam-se
de mentiras para beneficiar-se, não se desconfortam e nem acham complicado mentir,
não respeitam normas morais e assumem que manipulam os outros para beneficiar-se.
No segundo grupo, encontram-se os “atores”, cujas mesmas possuem uma habilidade
maior em controlar sua conduta verbal e não-verbal, emocional, controle social,
expressividade da conduta e social, estas encontram mais condições de enganar
os demais, estes em comparação aos demais grupos, tendem a persistir mais na
mentira quando desafiados, pois sentem-se confortáveis e seguros em mentir, ao
mentirem procurar reduzir seus movimentos corporais, como forma de controlar
melhor seus gestos.
No
terceiro grupo, considera-se as pessoas tidas como “sociais”, sendo mais
extrovertidas e voltadas para a vida social, gosta de estar envolvidas em
grupos, estas possuem tendência a mentir com mais freqüência que as pessoas
introvertidas, pois sentem-se confortáveis ao mentir e possuem tendência a
persistir na mentira. Por fim, considera-se as pessoas, designadas como “adaptáveis”,
cujas mesmas são ansiosas e inseguras socialmente, devido a motivação de causar
boa impressão, pois lidam com a insegurança buscando adaptar-se as expectativas
dos outros, desta maneira, possuem tendência a mentir mais quando desafiadas,
como meio de garantir a própria imagem, sentindo-se confortáveis e sem dificuldades
em manter a mentira, estes, também tendem a diminuir os movimentos corporais
quando mentem.
Outro elemento considerável no
momento da mentira, refere-se a inteligência, pois pessoas inteligentes possuem
maior capacidade de construir novas versões da verdade, por tanto, deve-se
manter uma premissa na busca pela verdade, qual seja, a de que “a falsificação
intencional é adaptativa e contextual.” Assim, outra aspecto determinante no
que refere-se a conduta da pessoa que esta enganando e mentindo reporta-se na
sua percepção e manipulação do contexto em que encontra-se inserida, cujas
mesmas são dividas em três áreas, na concepção de Vrij, quais sejam:
Emocional- a
tentativa de engano pode resultar em diferentes tipos de emoções, mas as três
mais comum são: culpa, medo e excitação. A intensidade destas emoções podem
variar conforme a personalidade e circunstâncias da mentira, (...) tais emoções
afetam a conduta do individuo de modo diferenciada, assim, “a culpa tende a
fazer com que o mentiroso evite olhar seu interlocutor nos olhos, enquanto o
medo e a excitação resultam em sinais de estresse, como erros e hesitações na
fala ou voz em falsete” (p.90).
Complexidade do
Conteúdo- mentir pode se tornar uma tarefa muito complexa,
posto que exige muita atenção por parte do mentiroso, o que resulta em “interferências
no comportamento, maior número de hesitações e de erros na fala, fala mais
lenta, pausas, redução de toda a movimentação corporal e a evitação em olhar o
entrevistador” (p. 90).
Tentativa de controle
do comportamento- a
pessoa que mente sabe que deve controlar sua ‘conduta suspeita’; assim, tenta
manter comportamentos considerados ‘normais’”. No entanto, as dificuldades
ainda se mostram por meio da tentativa do controle do corpo, por isso, é comum
encontrar-se comportamentos que aparentam serem planejados, ensaiados, ou seja,
sem espontaneidade, posto que na busca por controlar o comportamento o
individuo finda agindo de maneira mais rígida e inibida do que o normal, bem
como, outro aspecto difícil de controlar é a voz, pois a mesma sofre influencia
do sistema nervoso, assim na tentativa de enganar utilizando-se da voz o
mentiroso, utiliza-se de uma voz que produz um resultado de polidez incomum, ou
seja, todas as tentativas de controlem findam em um “excessivo planejamento e
rigidez, com discurso demasiadamente formal” (p.91).
Salienta-se
que tais comportamentos não podem ser considerados como absolutos, posto que
sua presença pode estar relacionada a outros fatores, tal como a ansiedade,
independente da mentira, como na casuística da pessoa sentir-se atemorizada
pelo simples fato de estar sendo interrogada, ou mesmo possuir dificuldades em
explicar situações, ou mesmo pelo simples temor a seu inquisitor. Além de que,
se a pessoa ludibriosa não sentir nenhum dos fatores, como a culpa, a ansiedade
ou o medo, nenhum destes sinais serão demonstrados pela mesma, o mesmo ocorre
com pessoas que construíram certas memórias, pois, na medida em que acreditam
no que dizem, não apresentam nenhum destes comportamentos, então descritos.
Assim,
como meio de se atentar a verdade, busca-se formas que facilitem tal obtenção,
tal como, pegar o indivíduo de surpresa, visto que assim a pessoa não terá
tempo suficiente para preparar sua defesa, apresentando então, um número maior
dos sinais comportamentais já descritos, assim, se a pessoa visa apenas ocultar
informações, o sujeito tende a falar mais rápido do que aquele que diz a
verdade, em vistas de causar uma impressão de normalidade, falam rápido demais,
usam maior número de palavras e polidez não comum na fala. A motivação é outro
fator importante, pois “quanto mais motivado o mentiroso esteja menos
movimentos de cabeça e trocas de posições o mesmo fará, falará mais lento, com
voz mais aguda e terá maior número de distúrbios da fala que aquele menos
motivado.
Ou
seja, por meio do exposto, verifica-se que não há conduta verbal ou não verbal típica que possa ser
associada ao engano, o que é possível assegurar é o fato de que existem
comportamentos que ocorrem com maior freqüência entre os que mentem do que no
contrário, destarte, “é mais provável que mentirosos apresentem-se menos
descritivos em seus relatos, com menos movimentos de pernas e pés, mãos e
dedos, diferenças na fluência da fala e na média de palavras usadas ou
expressões micro faciais de emoção.
4.
SUGESTÕES
QUANTO À IDENTIFICAÇÃO E MANEJO DA MENTIRA E DO ENGANO
Por meio da avaliação forense, apesar de
não ter-se ainda fórmulas programadas para detectar a presença de falsificações,
pode-se ser descrito o uso de algumas técnicas, que integradas a outras fontes,
permitiram a conclusão sobre a presença da mentira, assim, quanto mais
multiplicidade de fontes nesta busca, mais possível será o auferimento da
verdade. Desta maneira, todo observação seja verbal ou não verbal deve estar
associada a testes e entrevistas com terceiros, de maneira a comparar as
informações prestadas.
Além de que, salienta-se também para a
importância de entrevistar familiares, parentes, colegas, amigos de forma
complementar ao entrevistado, apesar de que estas pessoas também possa estar
envolvidas em ludibriar a verdade, porém contribuíram com dados que poderão ser
confrontados com os do analisado. Por conseguinte o entrevistador deve
apresentar algumas características importantes para o auferimento da verdade,
quais sejam, suspeitar, agindo por
meio de questionamentos, pois as pessoas que mentem possuem dificuldade em
manter uma única versão para os fatos, deixando que o individuo fale até o
final.
Outra característica é não revelar informações importantes, de
maneira que possa demonstrar os indicadores que esteja usando na avaliação. Deve
ainda, estar informado, sobre a
questão que está sendo verificada, deve ainda, questionar o periciado a respeito do que disse anteriormente, pois
esta técnica é extremante útil, pois a pessoa entra em dificuldade de manter a
mesma história. O próprio deve, olhar e
escutar com cuidado, abandonando estereótipos, posto que não existem
indicadores absolutos, por isso o uso de estereótipos pode ser errôneo neste
momento, pois cada caso deve ser analisado de forma única, analisando cada
detalhe da conduta em um contexto consistente.
Por fim, deve o entrevistador, comparar o comportamento da pessoa suspeita
de estar mentindo com o comportamento natural, para isso é importante que o
mesmo conheça os comportamentos normais de cada faixa etária e aqueles
relacionados a situações traumáticas, ou seja, o caminho aconselhável para o
auferimento da verdade consiste em adquirir uma postura investigativa, mantendo
sempre “uma postura de questionamentos sobre suas crenças e evitar o excesso de
autoconfiança quanto a sua capacidade para a identificação das condutas de
mentira e engano” (pag.95).
*Autoras do Resumo: Marlize Müller e
Aline Oliveira Mendes de Medeiros Franceschina – trabalho de Psicologia
Jurídica.
*Autora do Artigo: Sonia Liane Reichert
Rovinski