domingo, 11 de maio de 2014

RESUMO DO ARTIGO “A IDENTIFICAÇÃO DA MENTIRA E DO ENGANO EM SITUAÇÕES DE PERÍCIA PSICOLÓGICA

RESUMO DO ARTIGO “A IDENTIFICAÇÃO DA MENTIRA E DO ENGANO EM SITUAÇÕES DE PERÍCIA PSICOLÓGICA
         


         1.      ASPECTOS RELACIONADOS À FALSIFICAÇÃO DE INFORMAÇÕES EM PROCESSOS DE PERÍCIA

Ocorre que, apesar dos altos índices de incidência de mentiras, visto que a mesma é utilizada como uma das formas de defesa mais precocemente aprendidas é alarmante o quanto as pessoas permanecem incapazes de identificar um fato desta natureza, neste sentido Vrij (2000), citado pela referida autora, afirma que as pessoas ainda são melhores em mentir do que em reconhecer um mentiroso. Isso se deve ao desinteresse social pelo reconhecimento da verdade, bem como, ao fato de que o mentiroso possui suas habilidades bastante desenvolvidas, dificultando assim, o reconhecimento da identificação
.
Destarte, se considerar-se que nas relações sociais a mentira possui alto índice de incidência, salienta-se que na área forense estas situações tendem a acentuar-se. Neste sentido, a relação que se estabelece entre o periciado e o avaliador baseiam-se no fato de que o periciado visa ludibriar o avaliador por meio da criação de uma situação irreal, como meio de obter benefícios, ou mesmo, eximir-se das responsabilidades, enquanto que no caso do avaliador incumbe a realização de um trabalho pormenorizado, que evidencia a verdade para as autoridades competentes.

Neste sentido, por meio de estudos, verificou-se que. apenas os agentes do Serviço Secreto mostram-se diferenciados nesta capacidade de identificação, mesmo em comparação com demais grupos treinados especificamente para a identificação deste problema, cita-se aqui, os juízes, psicólogos, assistentes sociais, dentre outros. Ademais, verificou-se que esta identificação tornaria-se mais fácil se o avaliador tivesse por objetivo identificar a verdade ao invés da mentira, pois as pessoas possuem uma capacidade maior em identificar as condutas autênticas, devido à tendência em acreditar que o que vêem é verdadeiro, além do vinculo de confiança que se estabelece um com o outro no convívio social.

Deste modo, acometer a dificuldade na identificação das condutas de mentira e engano envolve a discussão de no mínimo duas classes de fatores, quais sejam, “aqueles relacionados as características do observador e outros relacionados ao próprio sujeito que busca distorcer a verdade, tanto em relação às suas habilidades pessoais quanto a sua percepção da situação em que se encontra inserido” (pag.84).

            
                   2.      FATORES RELACIONADOS AO OBSERVADOR

De acordo com estudos, conclui-se que uma das maiores dificuldades em identificar a mentira e o engano encontra-se no fato de que os avaliadores possuem dificuldade em dirigir seu foco de atenção a indicadores precisos e eficazes. Isso se deve ao despreparo do observador, bem como as crenças que o mesmo constrói sobre a maneira de se conduzir de uma pessoa que esteja mentindo. Tais crenças possuem variáveis de acordo com cada cultura, no entanto centralizam o problema de supervalorizar elementos de comportamento, cujos mesmos “são mais pertinentes ao estado emocional da ansiedade do que do ato de enganar propriamente dito” (pag. 84).

As crenças seriam construídas sobre experiências que envolvem situações extremas, onde prevalece o nervosismo, por falta de controle as informações necessárias para manter a mentira, e o temor por parte do mentiroso ser descoberto. Nas situações onde a mentira fosse empregada de forma altamente elaborada, com controle da situação por parte de seu agente, e onde o mesmo se mostrasse autoconfiante, estes indicadores apreendidos através das crenças já não se evidenciam ( citação do autor à VRIJ, 2000-pag. 85).

Assim sendo, autores como Hall e Pritchard (1996), consideram de suma importância para os avaliadores a realização de uma reavaliação de suas crenças acerca de elementos indicadores na busca pela verdade, sendo que os erros mais frequentes são:

a)       “Acreditar que a simulação não ocorre com freqüência;
b)       Associar simulação com doença mental;
c)       Acreditar que o avaliador não consegue ser enganado;
d)       Valorizar excessivamente os traços de caráter em detrimento de uma avaliação contextual (inclusive reforçando critérios estabelecidos pelo DSM-IV);
e)       Acreditar que determinadas condições clínicas, como amnésia e alucinações, podem ser facilmente simuladas e dificilmente provadas quanto a falta de veracidade;
f)        Acreditar que a habilidade em detectar a simulação é uma arte e que não pode ser ensinada. Estas falsas crenças levariam os avaliadores, de forma ingênua ou arrogante, a minimizar sua ocorrência ou a deslocar o foco de análise para doença mental - negando a função de adaptação social inerente à conduta de mentir ou distorcer a realidade.” (pag85)

Destarte, acerca desta questão, em citação a VRIJ, a autora reforça acerca do perigo que a autoconfiança acarreta ao entrevistador, tornando-os vulneráveis, ou seja, com base em crenças pré-estabelecidas, os mesmos tomam decisões rápidas, basiladas em poucas informações. Outros fatores negativos, são a tendência que as pessoas possuem de não querer saber a verdade, bem como as culturas que carregam consigo, no sentido de preconceitos, ou mesmo fatores como as diferenças étnicas.

3.      FATORES RELACIONADOS AO COMPORTAMENTO DE MENTIR

A maior dificuldade acerca da temática, encontra-se no fato de que não é possível definir um padrão comportamental do mentiroso, visto que suas manifestações encontram-se vinculadas a personalidade do simulador e das circunstâncias abarcadas, ou seja, as características da mentira são diferenciadas conforme cada individuo, neste sentido a autora em citação a Vrij, propõe uma distinção por meio de quatro grupos, compostos por:

Primeiramente, “encontram-se os denominados “manipuladores”, caracterizadas pelo esperado estereótipo do mentiroso, egoísta, astuto e manipulador”. Por meio de estudos verificou-se que pessoas com elevados maquiavelismo, frequentemente utilizam-se de mentiras para beneficiar-se, não se desconfortam e nem acham complicado mentir, não respeitam normas morais e assumem que manipulam os outros para beneficiar-se. No segundo grupo, encontram-se os “atores”, cujas mesmas possuem uma habilidade maior em controlar sua conduta verbal e não-verbal, emocional, controle social, expressividade da conduta e social, estas encontram mais condições de enganar os demais, estes em comparação aos demais grupos, tendem a persistir mais na mentira quando desafiados, pois sentem-se confortáveis e seguros em mentir, ao mentirem procurar reduzir seus movimentos corporais, como forma de controlar melhor seus gestos.

No terceiro grupo, considera-se as pessoas tidas como “sociais”, sendo mais extrovertidas e voltadas para a vida social, gosta de estar envolvidas em grupos, estas possuem tendência a mentir com mais freqüência que as pessoas introvertidas, pois sentem-se confortáveis ao mentir e possuem tendência a persistir na mentira. Por fim, considera-se as pessoas, designadas como “adaptáveis”, cujas mesmas são ansiosas e inseguras socialmente, devido a motivação de causar boa impressão, pois lidam com a insegurança buscando adaptar-se as expectativas dos outros, desta maneira, possuem tendência a mentir mais quando desafiadas, como meio de garantir a própria imagem, sentindo-se confortáveis e sem dificuldades em manter a mentira, estes, também tendem a diminuir os movimentos corporais quando mentem.

            Outro elemento considerável no momento da mentira, refere-se a inteligência, pois pessoas inteligentes possuem maior capacidade de construir novas versões da verdade, por tanto, deve-se manter uma premissa na busca pela verdade, qual seja, a de que “a falsificação intencional é adaptativa e contextual.” Assim, outra aspecto determinante no que refere-se a conduta da pessoa que esta enganando e mentindo reporta-se na sua percepção e manipulação do contexto em que encontra-se inserida, cujas mesmas são dividas em três áreas, na concepção de Vrij, quais sejam:

Emocional- a tentativa de engano pode resultar em diferentes tipos de emoções, mas as três mais comum são: culpa, medo e excitação. A intensidade destas emoções podem variar conforme a personalidade e circunstâncias da mentira, (...) tais emoções afetam a conduta do individuo de modo diferenciada, assim, “a culpa tende a fazer com que o mentiroso evite olhar seu interlocutor nos olhos, enquanto o medo e a excitação resultam em sinais de estresse, como erros e hesitações na fala ou voz em falsete” (p.90).

Complexidade do Conteúdo- mentir pode se tornar uma tarefa muito complexa, posto que exige muita atenção por parte do mentiroso, o que resulta em “interferências no comportamento, maior número de hesitações e de erros na fala, fala mais lenta, pausas, redução de toda a movimentação corporal e a evitação em olhar o entrevistador” (p. 90).

Tentativa de controle do comportamento-     a pessoa que mente sabe que deve controlar sua ‘conduta suspeita’; assim, tenta manter comportamentos considerados ‘normais’”. No entanto, as dificuldades ainda se mostram por meio da tentativa do controle do corpo, por isso, é comum encontrar-se comportamentos que aparentam serem planejados, ensaiados, ou seja, sem espontaneidade, posto que na busca por controlar o comportamento o individuo finda agindo de maneira mais rígida e inibida do que o normal, bem como, outro aspecto difícil de controlar é a voz, pois a mesma sofre influencia do sistema nervoso, assim na tentativa de enganar utilizando-se da voz o mentiroso, utiliza-se de uma voz que produz um resultado de polidez incomum, ou seja, todas as tentativas de controlem findam em um “excessivo planejamento e rigidez, com discurso demasiadamente formal” (p.91).

Salienta-se que tais comportamentos não podem ser considerados como absolutos, posto que sua presença pode estar relacionada a outros fatores, tal como a ansiedade, independente da mentira, como na casuística da pessoa sentir-se atemorizada pelo simples fato de estar sendo interrogada, ou mesmo possuir dificuldades em explicar situações, ou mesmo pelo simples temor a seu inquisitor. Além de que, se a pessoa ludibriosa não sentir nenhum dos fatores, como a culpa, a ansiedade ou o medo, nenhum destes sinais serão demonstrados pela mesma, o mesmo ocorre com pessoas que construíram certas memórias, pois, na medida em que acreditam no que dizem, não apresentam nenhum destes comportamentos, então descritos.

Assim, como meio de se atentar a verdade, busca-se formas que facilitem tal obtenção, tal como, pegar o indivíduo de surpresa, visto que assim a pessoa não terá tempo suficiente para preparar sua defesa, apresentando então, um número maior dos sinais comportamentais já descritos, assim, se a pessoa visa apenas ocultar informações, o sujeito tende a falar mais rápido do que aquele que diz a verdade, em vistas de causar uma impressão de normalidade, falam rápido demais, usam maior número de palavras e polidez não comum na fala. A motivação é outro fator importante, pois “quanto mais motivado o mentiroso esteja menos movimentos de cabeça e trocas de posições o mesmo fará, falará mais lento, com voz mais aguda e terá maior número de distúrbios da fala que aquele menos motivado.

Ou seja, por meio do exposto, verifica-se que não há conduta  verbal ou não verbal típica que possa ser associada ao engano, o que é possível assegurar é o fato de que existem comportamentos que ocorrem com maior freqüência entre os que mentem do que no contrário, destarte, “é mais provável que mentirosos apresentem-se menos descritivos em seus relatos, com menos movimentos de pernas e pés, mãos e dedos, diferenças na fluência da fala e na média de palavras usadas ou expressões micro faciais de emoção.

            4.      SUGESTÕES QUANTO À IDENTIFICAÇÃO E MANEJO DA MENTIRA E DO ENGANO

Por meio da avaliação forense, apesar de não ter-se ainda fórmulas programadas para detectar a presença de falsificações, pode-se ser descrito o uso de algumas técnicas, que integradas a outras fontes, permitiram a conclusão sobre a presença da mentira, assim, quanto mais multiplicidade de fontes nesta busca, mais possível será o auferimento da verdade. Desta maneira, todo observação seja verbal ou não verbal deve estar associada a testes e entrevistas com terceiros, de maneira a comparar as informações prestadas.

Além de que, salienta-se também para a importância de entrevistar familiares, parentes, colegas, amigos de forma complementar ao entrevistado, apesar de que estas pessoas também possa estar envolvidas em ludibriar a verdade, porém contribuíram com dados que poderão ser confrontados com os do analisado. Por conseguinte o entrevistador deve apresentar algumas características importantes para o auferimento da verdade, quais sejam, suspeitar, agindo por meio de questionamentos, pois as pessoas que mentem possuem dificuldade em manter uma única versão para os fatos, deixando que o individuo fale até o final.

Outra característica é não revelar informações importantes, de maneira que possa demonstrar os indicadores que esteja usando na avaliação. Deve ainda, estar informado, sobre a questão que está sendo verificada, deve ainda, questionar o periciado a respeito do que disse anteriormente, pois esta técnica é extremante útil, pois a pessoa entra em dificuldade de manter a mesma história. O próprio deve, olhar e escutar com cuidado, abandonando estereótipos, posto que não existem indicadores absolutos, por isso o uso de estereótipos pode ser errôneo neste momento, pois cada caso deve ser analisado de forma única, analisando cada detalhe da conduta em um contexto consistente.

Por fim, deve o entrevistador, comparar o comportamento da pessoa suspeita de estar mentindo com o comportamento natural, para isso é importante que o mesmo conheça os comportamentos normais de cada faixa etária e aqueles relacionados a situações traumáticas, ou seja, o caminho aconselhável para o auferimento da verdade consiste em adquirir uma postura investigativa, mantendo sempre “uma postura de questionamentos sobre suas crenças e evitar o excesso de autoconfiança quanto a sua capacidade para a identificação das condutas de mentira e engano” (pag.95).

*Autoras do Resumo: Marlize Müller e Aline Oliveira Mendes de Medeiros Franceschina – trabalho de Psicologia Jurídica.

*Autora do Artigo: Sonia Liane Reichert Rovinski